Opinião: PortugalFashion SS16

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O PortugalFashion e a ModaLisboa SS16 já terminaram e com eles todo o destaque mediático.As conversas sobre a moda, a criatividade, os desfiles, os jovens e os consagrados voltam daqui a 6 meses. Nos próximos 6 meses, o hiato do costume: as colecções amontoam-se em armários e armazéns cuidados, à espera de serem chamadas pontualmente a cumprirem as suas obrigações em editoriais de ciclo vicioso, para vestirem um famoso que não quer assumir a compra ou para aparecerem numa página de shopping duma revista folheada rapidamente num momento de espera. Nos próximo 6 meses, a cumprir os timings da ´fashion industry´ temos de esperar que venha o tempo quente para as colecções contactarem com o seu objectivo, o público.Mas os nossos roupeiros são feios de layers, não de substituições. O tempo promove a adição e subtracção de peças, não a sua drástica substituição. A scar-id como qualquer roupeiro client-friendly não diferencia estações. Vendemos e comunicamos peças, produtos, design e criatividade.

Mas como, apesar de tudo gostamos da fashion industry e das semanas da moda, aqui ficam as nossas sugestões sobre as colecções SS16 apresentadas no Portugal Fashion.

DIA 1 – 21 Outubro

Carla Pontes apresentou a sua colecção Alga, traduzida por peças leves e delicadas em cupro e tecidos com toque de pêssego, que contrastam com o coordenados azuis (quase) Yves Klein de aspecto estruturado. As peças são ajustadas ao corpo pelas finas fitas e tiras, envolvendo as modelos pelo seu trespasse, visivel em alguns dos coordenados. O tecido cinza, composto por três fios riscados, rompe o desfile pelo seu aspecto mais pesado, com bolsos caídos, como se estivessem cheios de água, dando um aspecto pingado a algum dos vestidos. O conceito passou para a leitura do desfile através de um exemplar trabalho de cabelos e pela escolha do calçado, que quase fazia pensar que a toda a colecção acabara de sair da água. Estamos curiosos por perceber a reacção dos clientes aos apontamentos bordados que aparecem em alguns coordenados.

DIA 3 – 23 Outubro

As colecções de Susana Bettencourt começam sempre com uma historia. ´Ways of seeing´ é o inicio de um novo capitulo das suas historias. Nos primeiros 5 coordenados, que pareciam querer desafiar a questão comercial, Susana mostrou da melhor forma o seu tema de inspiração: os raios interiores do olho humano. A transição de colecção foi desta vez mais explícita pela ausência das cores fortes e os padrões que nos habituou. Susana continua a explorar os limites entre a relação da tecnologia e o trabalho manual, da mesma forma que testa novos materiais e técnicas. SS16 é uma colecção graficamente mais limpa, onde o branco é a cor principal dominando a maior parte dos coordenados. De destacar o pormenor dos cortes paralelos finos em alguns coordenados brancos.

Estelita Mendonça convocou os seus amigos para desfilarem os seus uniformes de trabalho. A continuidade das colecções são assumidas com peças desconstruídas sobre moldes de desenho clássico. Nas cores, o verde juntou-se aos habituais neutros.

A colecção de Eduardo Amorim reflecte, palavras do autor, a situação do país e do mundo, não sendo inocente a escolha de três actores políticos actuais como ´cartão de visita´ deixado nos bancos da plateia Bloom, assim como a alusão ao saco e luva de boxe nos acessórios. Eduardo leva-nos a reflectir sobre as questões da falta de liberdade e progressiva libertação. Ao longo do desfile vamos descobrindo coordenados onde as modelos se encontram envolvidas e aprisionadas dentro das peças, com tiras e nós. Ao mesmo tempo vão sendo desvendadas peças que parecem querer soltar-se do corpo. Casacos aparentemente a cair, mangas soltas que se libertam da construção da peça, peças que se vão desconstruindo sucedem-se pelo desfile. No interior das peças, as costuras são sobrepostas com uma fita termo-colada, dando ainda mais ênfase à questão da opressão tal como as faixas que envolvem alguns dos coordenados. Com uma colecção tão próxima do manifesto será interessante perceber a sua descontextualização e apropriação por parte do cliente.

Daniela Barros apresenta-nos mais uma colecção na coerência do trabalho que nos habituou. Daniela tem um processo contínuo na direcção do minimalismo. Os vestidos são desconstruídos do molde de casacos masculinos, as calças são referenciadas à sua estrutura clássica mas também se transformam em vestidos e saias. A nível cromático, a cada desfile, normalmente é acrescentada uma nova cor à sua gama. Desta vez o azul, denim, passeia-se por entre o branco, o preto e bege habituais. Daniela Barros reinventa também o casaco de ganga para algo mais sofisticado e usado nos seus coordenados de uma forma pouco convencional. As peças são monocromáticas, os tecidos têm um ar cru em coordenados aparentemente inacabados, uma leitura que associamos sempre a Daniela Barros e à sua coerência.

(Daniela Barros)

Também coerente e contínuo é o trabalho de Hugo Costa. Não por acaso que apresenta a sua colecção no seguimento de Daniela Barros, conferindo ao desfile uma mesma leitura, gráfica e cromática, mas menos experimental, no sentido mais comercial. Surpreendeu-nos os coordenados femininos cinza claro pela sua estrutura de conforto.


DIA 4 – 24 Outubro

Lath é a primeira colecção de Inês Marques, apresentada no espaço Bloom. Inspiração no trabalho do escultor Andy Vogt, Inês apresenta um colecção muito gráfica nos elementos geométricos, mas é preciso atenção para apreender a subtileza das texturas dos materiais e os filamentos da estampagem. As sarjas apresentam filamentos estampados em cor de cobre que, pelo seu posicionamento, nos remetem para os veios da madeira usada nas esculturas de Andy Vogt. Os materiais são simples e as linhas depuradas, mas intervencionadas através  da estampagem, dobragem e uso de aplicações. Apesar da sua referenciação directa com o imaginário artístico, a colecção de Inês Marques parece-nos curiosamente bastante comercial e esperamos que o obrigatório tempo de reclusão académica seja breve.

(Inês Marques)

[UN]T de Tiago Silva apresentou-nos um dos Casacos mais desconcertantes do dia, construído por uma malha de rede com acabamento encerado. A silhueta remete-nos para a ideia de uma cápsula protectora. Um conceito muito interessante para ser adaptado para uma vertente mais comercial.

Gostamos particularmente de assistir aos desfiles das Escolas. Sem a pressão comercial e com toda a vontade de experimentar conceitos e novas formas de composição é muito interessante assistir à sucessão de coordenados sobre um fantástico cenário interactivo de vidro reciclado amontoado.
A estampagem está presente na maior parte dos coordenados dos alunos do Modatex. Destacamos a colecção de Agata Gonçalves, sportswear comercial, em tons preto, branco e nude com a introdução de um verde ácido que quebra com a neutralidade dos tons. Joana Vieira, repete a questão da estampagem, desta vez manual e irrepetível. A colecção Prototype mostrou-nos peças aparentemente ainda em estudo.

(Modatex)

Nos desfiles da ESADFrancisca Pereira apresenta peças assimétricas que se desfazem como que saídas de um cenário de destruição. Carolina Machado, repete a colecção apresentada no Sangue Novo. Formas rectas, com cortes rígidos e recortes, que revelam algumas partes do corpo e o envolvem.

(ESAD)

Escola de Moda do Porto apresentou-nos colecções urbanas e descontraídas, onde sobressaiu o uso do preto e branco, numa contínua coerência dos coordenados de Anabela Rodrigues, Alexandra Teixeira e Sofia RochaMarco Moura desafio esta coerência através do uso da cor, enquanto Sílvia Rocha o fez através da leveza e transparência da sua colecção.

Evento: Around // Instalação Vídeo . Sábado 31 de Outubro . 16pm

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No próximo dia 31 de Outubro é dia de Inaugurações Simultâneas no Quarteirão Miguel Bombarda no Porto.Como não podia deixar de ser a scar-id store associa-se ao evento que chama a esta zona artística do Porto um fluxo de público extra.Às vezes com uma vertente mais comercial de lançamento de marcas novas ou colecções, outras com exposições de desenho e fotografia no seu espaço -1, no próximo sábado a scar-id store funde os dois conceitos e apresenta uma instalação sobre um produto. 

// Around // Instalação Vídeo – movimentos em torno da colecção ´Orbit´ Carla Pontes” é o nome dado à intervenção artística que os espaços da scar-id store vão absorver em parceria com a equipa da marca Carla Pontes.Um conjunto de ecrãs, de dimensões variadas, em ambiente escuro e imersivo no  espaço -1, apresentam ao observador uma nova forma de percepção sobre a colecção de Outono-Inverno da Carla Pontes.

A partir das 16h de Sábado, a scar-id store convida o público a percorrer os seus espaços para encontrar um nova forma de conhecer e interpretar o produto-moda. 

(texto da marca) 

Around. As a planet goes around a star, as a moon goes around a planet. ORBIT invites you to look into our planet throughout the sky.
It gives you the chance to see the contour curves in a dry lake, the volume of a volcano, the texture of the lava flow. It’s enhanced by grains and granite, by textures and terraces.A darker insight! But at the same time a vision of different states of beauty, that ORBIT around.

direcção criativa e produção: Carla Pontes e João Pontes
realização: Miguel C. Tavares
fotografia: Rui Manuel Vieira
música: José Alberto Gomes
casting: Mary’ana Kovalchuk
filmado no espaço -1 da scar-id store

Produto: João Abreu Valente . Teapot´set

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O Designer Industrial João Abreu Valente nasceu em Lisboa, em 1984. Licenciou-se em Design de Produto pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e 2008, tendo seguido para a Eindhoven Design Academy. De regresso a Lisboa, em 2013, abriu o seu estúdio e em co-fundou o Arquivo 237 com Sara Orsi, uma plataforma cultural situada no Bairro Alto.

Em 2012 desenha o Teapotset:  um bule que produz o seu próprio serviço de chá. Ao ser utilizada uma quantidade fixa de barro líquido, a criação de cada objecto deixa sempre menos material para fazer o próximo. A coloração do barro é uma tradução visual deste processo. O primeiro enchimento revela a mistura inicial de duas cores que se começam a misturar numa única consoante o barro é vertido para dentro e para fora do molde, dando assim continuidade ao processo de produção.

Em 2013, João Abreu Valente ganha o Primeiro Prémio na Homeless Design Competition durante o Salone del Mobile com o Teapotset. Em 2014 venceu o Be Open´s Young Talent Award.Tem desenvolvido várias residências artísticas como por exemplo na Vista Alegre ou no Pico do refúgio – Casas de Campo com Maria Pita Guerreiro.

Recentemente, João Abreu Valente e o Teapot’set voltaram a vencer um prémio: Prémio Finalistas Daciano da Costa.

Na scar-id store temos o set completo em ocre, um peça conceito para coleccionadores, e algumas peças soltas para aqueles que adoram o Teapot’set mas não têm espaço nas suas casas.

Imprensa: Porto Melhor Destino Romântico Fora do radar

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O Porto foi eleito pelos leitores do USA Today como o melhor destino romântico fora do radar.

O USA  Today seleccionou factores como um certo sentido medieval, as vistas, os monumentos, a história, os museus, a ribeira e o vinho. Na verdade nós preferimos a parte em que descrevem o Porto com uma cidade que combina “o melhor do charme do Antigo Mundo com o conforto dos dias contemporâneos”. 

O Porto é uma cidade romântica porque retém o tempo. O tempo para caminhar, o tempo para ver, o tempo para saborear, o tempo para sermos nós próprios. E o tempo é para ser partilhado.

Opinião: Open House, Living in the city: Parte 2 – o Prédio da Frente

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Mostrar arquitectura a quem a quer ver, de forma gratuita e informal. Abrir as portas de edifícios privados ou retirar o bilhete a edifícios públicos, mostrando uma outra forma de ver e pensar a cidade. Para quem trabalha ao sábado, e os percursos de lazer querem-se radiocêntricos ao eixo loja-apartamento, sobra a vontade de visitar um conjunto de “casas” pelo centro. 

Casa Breiner 310, César Machado Moreira e Claudia Dias (2015)

antes da visita

O Prédio da Frente apresenta apartamentos gradeados; lajes de piso a cortar antigos vãos; uma pintura cinzenta à pistola que ignorou a pedra;  um reboco grosso, descuidado, à talocha; tentou encontrar espaço para 9 apartamentos dentro de uma casca-ruína; criou 4 pisos onde existiam 2; dialogou e/ou ignorou a ruína; transformou a ruína; criou micro-pátios-tipo-jaulas que começam a acumular lixo em frente a apartamentos; partiu do pressuposto de uma nova forma de habitar a cidade dentro de uma antiga forma de habitar. O Prédio da Frente levanta muitos comentários. Foi sempre tema de conversa entre todas as visitas de arquitectos que por aqui temos pela loja, nacionais e internacionais. A arquitectura serve (também) para criticar-comentar os modos de vida e deve ser polémica quando assim o entender. 

depois da visita

O programa justifica as opções espaciais.

O programa aplaude a estratégia polémica.

O programa legitima os mecanismos de mimetismo contemporâneo a conceitos típicos: a ilha (contemporânea). 

O programa: criar apartamentos interessantes para um público viajante inter-nacional de pouca permanência, num edifício desenhado para não ser mais um, mas um dos mais, na já extensa e aparentemente infinita oferta de alojamento temporário no Porto. A arquitectura deve ser polémica quando entende que é a melhor maneira de resolver o programa-objectivo: valorizar mediaticamente-esteticamente espaços para resultarem em constantes e sucessivos benefícios económicos. 

O Prédio da Frente apresenta apartamentos de betão armado, com áreas generosas (para pouca permanência), arrumação e cozinhas a azul turquesa, separação rígida de funções do habitar. Pelo programa acentua o uso (falso-) comunitário, as zonas comuns de passagem-permanência, convívio e contacto (as portas das habitações são de vidro). A cobertura é um solário modernista ou o “logradouro  da ilha” lá em cima; zona de jantares sociais, um copo de vinho ao fim da tarde a aproveitar a vista desafogada e a luz necessária que as habitações não permitem. 

O Prédio da Frente continua a ter apartamentos gradeados, com pouca luz; vistas interiores para uma tentativa poética de pátio-resto-de-espaço mal iluminado; janelas contra a ruína cinzenta; meias-janelas no meio de antigos vãos; cantarias preenchidas no interior dos quartos; mas à medida que se sobe, como em qualquer outro prédio de qualquer cidade, o espaço vai melhorando, a luz sendo mais forte, as vistas mais desafogada, a ruína tem menor presença; as janelas enquadram outro casario e outras ruínas de outras casas que esta ruína-cinzenta quis filtrar.

O Prédio da Frente vai trazer gente interessante ao Bairro. Vai ter, esperamos, muita procura pela experiência da diferença. Porque o conceito à priori assume apartamentos dentro de uma ruína contemporaneizada, baseados na interpretação contemporânea do modo de habitar das típicas ilhas portuenses. A história funciona. A narrativa foi construída para ser lida, interpretada, criticada, odiada, comunicada, vendida e copiada. O Prédio da Frente é o sítio ideal para um trabalhador temporário, o refúgio de descanso para um dia de trabalho prolongado por um copo ao fim da tarde pela baixa e um jantar arrastado. A cobertura do Prédio da Frente é o lugar de destaque de um fim de semana relaxado do trabalhador semi-nómada. Se o programa fosse outro a crítica seria diferente, mas provavelmente a arquitectura também. 

O Prédio da Frente é exercício de arquitectura que vai sobretudo lançar algumas bases para outros desenvolvimentos urbanos. O esquerdo-direito não é obrigatório; a garagem também não; o jardim vai começar a ser na cobertura (já leva 100 anos de atraso); as zonas comuns podem mesmo ser comuns; o conceito de privacidade deve ser revisto; a relação com a rua também; a relação de vida urbana: viver na/com a cidade e não apenas dentro da cidade. 

Por vezes, na scar-id store, lançamos  também alguns produtos-exercícios que exploram o desafio canónico, que se assumem como tentativas de charneira, cortes conceptuais em direcções inusitadas, que apenas nos querem fazer questionar a evolução vs estabilização do (simplesmente) bom. A intenção está lá, foi feito com cuidado e com perspectiva, agora, estamos cá, em frente ao Prédio da Frente, para usufruir dos resultados.

Recentemente pintaram as letras em baixo relevo da caixa do correio a amarelo.

Opinião: Open House, Living in the city: Parte 1 – o Prédio da Paula Santos

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Mostrar arquitectura a quem a quer ver, de forma gratuita e informal. Abrir as portas de edifícios privados ou retirar o bilhete a edifícios públicos, mostrando uma outra forma de ver e pensar a cidade. Para quem trabalha ao sábado, e os percursos de lazer querem-se radiocêntricos ao eixo loja-apartamento, sobra a vontade de visitar um conjunto de “casas” pelo centro. 

Edifício Rua Miguel Bombarda, Paula Santos (2015)

A arquitectura é (por agora e ainda) tanto melhor quanto mais poética for, mas é igualmente boa, se for simplesmente, boa. E a Paula Santos, na pré-determinada ausência de poesia que o programa, o lote e o orçamento cortaram, fez apenas, e ainda bem, boa arquitectura. Escolhemos o Prédio da Paula Santos porque nos parecia um toque minimal (como a nossa loja) num rebuscado, artístico e falso-vintage bairro como o nosso. (Continuo com o meu receio pessoal que o minimalismo tenha tido o seu auge e morte nos anos 90, que aquilo que o Siza faz seja apenas poesia e o Souto racionalismo, mas o Pawson e o Dirand ainda fazem minimalismo e a Paula Santos (talvez) também.). Pavimentos em betão, com o corte no sítio certo; paredes brancas, sem rodapé;  grandes envidraçados com métricas de aberturas desconcertantes; arrumação prioritária, portas até ao tecto; sol, luz para Miguel Bombarda, calma e tranquilidade para os (ainda) misteriosos logradouros. O Prédio da Paula Santos quis reinterpretar a clarabóia e caixa de escadas da casa-tipo do Porto dos outros séculos. Contemporaneizou a clarabóia e sugou a sua luz para o apartamento de cima e espremeu a caixa de escadas para abirir um corredor interno que permite um a artamento por piso, frente e trás, que faz face à recuperação-tipo t0 com que diariamente e aborrecidamente lidamos por aqui. Destacamos o Prédio da Paula Santos, naturalmente, a bem de uma (nova, pelo menos por aqui) forma de viver e projectar a cidade. Nem sempre os rés-do-chão têm que ser uma loja, mas podem. Às vezes podem ser um escritório, outras vezes habitação. Ou então, os arquitectos, quando donos do orçamento e do programa, podem prever os dois: e esperar que haja um cliente (e basta um) que reconheça o programa e possa cobrir o orçamento. O zero e o menos um do Prédio da Paula Santos procuram uma (outra) forma contemporâea de viver na cidade. O zero e o menos um são para já simulações. O zero é um piso poli-multi-valente, onde charriots e display´s de produto confrontam a parede brancas, onde um dos quartos se transforma em provador e o outro em escritório. O zero é um piso poli-multi-valente para dispor mesas, cadernos, canetas, computadores, onde um dos quartosse transforma em sala de reuniões e o outro em sala de maquetes. O zero é um piso poli-multi-valente para espalhar sofás de leitura, bicicletas contra as paredes brancas, brinquedos e cadernos de colorir pelo chão , onde um dos quartos se transforma em quarto de dormir e o outro quarto de dormir também. O -1 é uma sala-cozinha aberta para um pátio, uma escadaria manual de pedra e um relvado verde. Tem também um quarto de dormir, semi-interior, com luz que vem do piso superior, que por sua vez vem da Miguel Bombarda. O zero e o menos um do Prédio da Paula Santos podem ser (um dos) o futuro da cidade com base no passado da cidade. Viver por cima do lugar de trabalho. Por baixo, neste caso. Fazem falta prédios assim.

Fazem falta programas assim. Contudo, o último piso, aquele onde foi possível ter um tecto de betão e mais luz sugada da clarabóia foi, inevitavelmente, absorvido pelo turismo.  E ainda bem, porque os viajantes internacionais precisam de compreender que o Porto também tem outras formas (diferentes) de habitar a cidade e de viver um bairro, e outras formas de comprar produtos globais, mas feitos com as bases de cá, tal e qual o Prédio da Paula Santos.

Referimos que o chão da cozinha era vermelho?

Media: scar-id store para a Riot Films

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Riot Films encontrou na scar-id store o espaço perfeito para o conceito do novo video promocional da Todoist. Um espaço branco, minimal, cheio de luz transportado pelas grandes montras para a cidade. 

Claro que tiveram de retirar os Limas da Carla Pontes, os Azuis e Verdes da Susana Bettencourt, os Laranjas do Filipe Faísca, os Rosa da Wek, o Colorido dos Lagrima…

A scar-id tem muita cor…mas fica muito bem a preto e branco.

Opinião: Alfredo Matos Ferreira (1928-2015)

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O tempo é assim. Estamos no tempo de saber as coisas pelas redes sociais. O meu amigo, Helder da Rocha, que está a fazer a sua obra genial pelo Brasil faz um share. 
Alfredo Matos Ferreira (1928-2015)
Apenas uma foto a preto e branco, de um tipo de boina num cenário marítimo. Só a data hifenizada nos dá a percepção: morreu Alfredo Matos Ferreira.

Nunca conheci o meu tio avó de quem herdei o nome, que agora não uso, mas dele conheço as histórias. Passava os desenhos a limpo do Matos Ferreira.
Durante a minha infância ouvi as histórias sobre o Matos Ferreira, o Siza, o Meneres, o Botelho Dias, o atelier deles. Também já cá não está quem me possa contar mais histórias. Talvez essas histórias me fizessem querer ser arquitecto. No tempo em que os arquitectos (também) eram (mais) poetas. Mas também gosto de pensar que foi aquele programa de televisão não sei se com o Graça Dias a andar pelas ruas (desurbanizadas) da cidade. Ou por ter crescido ao lado do estirador a preencher quadradinhos pretos que vim mais tarde a saber que representavam pilares. Ou porque a arquitectura é uma disciplina que nos consegue por a comentar a largura do mundo.

O Matos Ferreira pelos vistos era um tipo difícil, confidenciou-nos o caseiro.
Estávamos no quinto ano. O Nuno Oliveira, que está a fazer a sua obra pela Polónia, meu grande amigo e colega de casa na altura, convida-me para ir conhecer o Matos Ferreira. A ideia era irmos a casa dele perguntar se poderíamos tirar fotos à sua casa de férias em Barca d´ Alva.
O Nuno conduziu a conversa, eu não sei se abri a boca. Tinha ouvido tantas histórias do Matos Ferreira, que pouco mais devo ter dito quer “era um prazer”. As fotos eram para a cadeira do Carlos Machado, o famoso caderno de viagens, que já não era de desenho como para o Alves Costa.
Daquela tarde só me lembro que não só tivemos a bênção para tirar as fotos como fomos convidados para dormir lá, na arquitectura do Matos Ferreira. Hoje, se calhar ele fazia isso com todos os putos cheios de paixão pela disciplina que lhe iam bater à porta. Mas (também) fez isso connosco.
Não vale a pena descrever o prazer da viagem. Não me lembro quantos éramos, espalhámo-nos pelos quartos e pela sala, dormimos onde calhou. Percorremos a quinta, ouvimos as histórias do caseiro, comemos (mal) na vila, depois o carro avariou em Espanha e viemos, eu, o Nuno e o Rui Resende, que está fazer a sua obra pela Alemanha, de táxi até ao Porto, com um bacalhau assado pelo meio. Não vale a pena descrever a casa.

Regularmente passo pela Rua Arquitecto Marques da Silva (nem por acaso). O Matos Ferreira vivia, acho, ainda, naquele belíssimo prédio branco-acinzentado pela patine do tempo, desenhado por ele. Sempre que lá passo olho por entre as grades à procura de um janela aberta que me mostre a sala e o Matos Ferreira, aquele das histórias que eu sempre ouvi, sentado, a ler e a ouvir jazz ou fazer qualquer coisa poética que os arquitectos (daquele tempo) fazem.

Quando falo com o Rui, aquele que está a fazer a sua obra na Alemanha, sobre arquitectura, falamos da poesia, do Siza e dos antigos, dos tempos em que se fazia (boa) arquitectura, mais livre, mais pura e mais poética. Dos tempos em que o arquitecto era a arquitectura. Dos tempos em que um tipo chamado José Manuel, como eu, que já não uso, tinha que largar tudo e ia com o Matos Ferreira, para Barca d´Alva passar umas plantas a limpo.
Será que passou o prédio do Bom Sucesso, terá sido mesmo a casa de Barca d´Alva, terá sido a garagem anónima no Marquês ou outra obra qualquer que eu desconheço, porque na realidade, pouca gente conheço o Barão Vermelho, acho que foi o Quintão ou o Machado que me confidenciou o username.

Tirei fotos a duas ou três obras do Matos Ferreira para o Caderno de Viagens do Machado. Eu não, pedi à Sílvia. Eu por vezes só sugeria o ângulo, mais ou menos o que o Mies fazia. Para as obras do Matos Ferreira era demasiada responsabilidade ser eu a disparar. 
E depois há sempre coisas curiosas. Sábado perguntei ao Zé Pereira se o Matos Ferreira ainda era vivo. Disse-me que não sabia, mas que tinha estado com o Pedro Ramalho, aquele que nós dizíamos que era um Holograma.
O tempo é assim. Agora estamos no tempo de criar hologramas e podemos criar um do Matos Ferreira, para por na sala do rés do chão do prédio da arq. Marques da Silva. Assim, sempre que passar por lá posso espreitar pela janela e vê-lo a ler e a ouvir jazz ou qualquer coisa poética que o arquitectos daquele tempo faziam.

Outro dia passamos na praça de Liège e estava o Siza na varanda do prédio que o Souto desenhou para eles. Voltei a dar a volta à praça, já tinha ido para dentro. se calhar acabou o caderno. Quantos é que ainda dão a volta ao jardim para tentar ver um mestre duas vezes?

Produtos: nova categoria e-shop . cerâmica

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Nós adoramos cerâmica.Suaves ou texturadas, objectos utilitários ou apenas uma adição de cor à identidade visual da nossa casa. Temos peças para todos os gostos. Durante o último ano e meio apresentámos diferentes designers e marcas que à sua maneira trabalham com cerâmicas.

Margarida Gorgulho é uma jovem ceramista do Algarve.No seu atelier no coração algarvio, a Margarida reinterpreta novos frutos. Peças brancas em porcelana, com textura suave e um toque de cor no interior. A romã é a nossa preferida muito por causa do sua cirúrgica cicatriz (scar) no topo. Da Margarida apresentamos também uma série de taças em 3 tamanhos diferentes e cores variadas para serem usadas no dia a dia. Vidradas e coloridas no interior, branca sem vidrado no exterior tirando partido das propriedades da porcelana: delicadeza, resistência e impermeabilidade.

João Abreu Valente é um designer de produto que trabalha a partir de Lisboa. Encontrámo-nos no seu fantástico atelier Arquivo 237 no Bairro Alto. Queríamos falar sobre o seu trabalho nos vários campos do design, mas ficamos automaticamente viciados no Teapot’set Teapotset é um bule que produz o seu próprio serviço de chá. Ao ser utilizada uma quantidade fixa de barro líquido, a criação de cada objecto deixa sempre menos material para fazer o próximo. A coloração do barro é uma tradução visual deste processo. O primeiro enchimento revela a mistura inicial de duas cores que se começam a misturar numa única consoante o barro é vertido para dentro e para fora do molde, dando assim continuidade ao processo de produção. Temos o set completo em ocre, um peça conceito para coleccionadores, e algumas peças soltas para aqueles que adoram o Teapot’set mas não têm espaço nas suas casas.

Lágrima Studio é uma marca Portuense de produtos feitos à mão. Marcámos uma reunião com dupla dos Lágrima e fomos convidados para descobrir o estúdio onde trabalham. Uma impressionante sala branca num ícone arquitectónico do Porto, repleto de cerâmicas. Cada peça é uma peça única, feita à mão, individualmente, tomando partido da textura visual da luta entre o material e o pigmento. Objectos honestos, que aceitam a imperfeição como a beleza e originalidade de cada peça. Taças e tábuas para serem usadas na cozinha ou por todo o lado da casa para adicionar um toque de suavidade sobre uma pilha de revistas.