Opinião: PortugalFashion SS16

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O PortugalFashion e a ModaLisboa SS16 já terminaram e com eles todo o destaque mediático.As conversas sobre a moda, a criatividade, os desfiles, os jovens e os consagrados voltam daqui a 6 meses. Nos próximos 6 meses, o hiato do costume: as colecções amontoam-se em armários e armazéns cuidados, à espera de serem chamadas pontualmente a cumprirem as suas obrigações em editoriais de ciclo vicioso, para vestirem um famoso que não quer assumir a compra ou para aparecerem numa página de shopping duma revista folheada rapidamente num momento de espera. Nos próximo 6 meses, a cumprir os timings da ´fashion industry´ temos de esperar que venha o tempo quente para as colecções contactarem com o seu objectivo, o público.Mas os nossos roupeiros são feios de layers, não de substituições. O tempo promove a adição e subtracção de peças, não a sua drástica substituição. A scar-id como qualquer roupeiro client-friendly não diferencia estações. Vendemos e comunicamos peças, produtos, design e criatividade.

Mas como, apesar de tudo gostamos da fashion industry e das semanas da moda, aqui ficam as nossas sugestões sobre as colecções SS16 apresentadas no Portugal Fashion.

DIA 1 – 21 Outubro

Carla Pontes apresentou a sua colecção Alga, traduzida por peças leves e delicadas em cupro e tecidos com toque de pêssego, que contrastam com o coordenados azuis (quase) Yves Klein de aspecto estruturado. As peças são ajustadas ao corpo pelas finas fitas e tiras, envolvendo as modelos pelo seu trespasse, visivel em alguns dos coordenados. O tecido cinza, composto por três fios riscados, rompe o desfile pelo seu aspecto mais pesado, com bolsos caídos, como se estivessem cheios de água, dando um aspecto pingado a algum dos vestidos. O conceito passou para a leitura do desfile através de um exemplar trabalho de cabelos e pela escolha do calçado, que quase fazia pensar que a toda a colecção acabara de sair da água. Estamos curiosos por perceber a reacção dos clientes aos apontamentos bordados que aparecem em alguns coordenados.

DIA 3 – 23 Outubro

As colecções de Susana Bettencourt começam sempre com uma historia. ´Ways of seeing´ é o inicio de um novo capitulo das suas historias. Nos primeiros 5 coordenados, que pareciam querer desafiar a questão comercial, Susana mostrou da melhor forma o seu tema de inspiração: os raios interiores do olho humano. A transição de colecção foi desta vez mais explícita pela ausência das cores fortes e os padrões que nos habituou. Susana continua a explorar os limites entre a relação da tecnologia e o trabalho manual, da mesma forma que testa novos materiais e técnicas. SS16 é uma colecção graficamente mais limpa, onde o branco é a cor principal dominando a maior parte dos coordenados. De destacar o pormenor dos cortes paralelos finos em alguns coordenados brancos.

Estelita Mendonça convocou os seus amigos para desfilarem os seus uniformes de trabalho. A continuidade das colecções são assumidas com peças desconstruídas sobre moldes de desenho clássico. Nas cores, o verde juntou-se aos habituais neutros.

A colecção de Eduardo Amorim reflecte, palavras do autor, a situação do país e do mundo, não sendo inocente a escolha de três actores políticos actuais como ´cartão de visita´ deixado nos bancos da plateia Bloom, assim como a alusão ao saco e luva de boxe nos acessórios. Eduardo leva-nos a reflectir sobre as questões da falta de liberdade e progressiva libertação. Ao longo do desfile vamos descobrindo coordenados onde as modelos se encontram envolvidas e aprisionadas dentro das peças, com tiras e nós. Ao mesmo tempo vão sendo desvendadas peças que parecem querer soltar-se do corpo. Casacos aparentemente a cair, mangas soltas que se libertam da construção da peça, peças que se vão desconstruindo sucedem-se pelo desfile. No interior das peças, as costuras são sobrepostas com uma fita termo-colada, dando ainda mais ênfase à questão da opressão tal como as faixas que envolvem alguns dos coordenados. Com uma colecção tão próxima do manifesto será interessante perceber a sua descontextualização e apropriação por parte do cliente.

Daniela Barros apresenta-nos mais uma colecção na coerência do trabalho que nos habituou. Daniela tem um processo contínuo na direcção do minimalismo. Os vestidos são desconstruídos do molde de casacos masculinos, as calças são referenciadas à sua estrutura clássica mas também se transformam em vestidos e saias. A nível cromático, a cada desfile, normalmente é acrescentada uma nova cor à sua gama. Desta vez o azul, denim, passeia-se por entre o branco, o preto e bege habituais. Daniela Barros reinventa também o casaco de ganga para algo mais sofisticado e usado nos seus coordenados de uma forma pouco convencional. As peças são monocromáticas, os tecidos têm um ar cru em coordenados aparentemente inacabados, uma leitura que associamos sempre a Daniela Barros e à sua coerência.

(Daniela Barros)

Também coerente e contínuo é o trabalho de Hugo Costa. Não por acaso que apresenta a sua colecção no seguimento de Daniela Barros, conferindo ao desfile uma mesma leitura, gráfica e cromática, mas menos experimental, no sentido mais comercial. Surpreendeu-nos os coordenados femininos cinza claro pela sua estrutura de conforto.


DIA 4 – 24 Outubro

Lath é a primeira colecção de Inês Marques, apresentada no espaço Bloom. Inspiração no trabalho do escultor Andy Vogt, Inês apresenta um colecção muito gráfica nos elementos geométricos, mas é preciso atenção para apreender a subtileza das texturas dos materiais e os filamentos da estampagem. As sarjas apresentam filamentos estampados em cor de cobre que, pelo seu posicionamento, nos remetem para os veios da madeira usada nas esculturas de Andy Vogt. Os materiais são simples e as linhas depuradas, mas intervencionadas através  da estampagem, dobragem e uso de aplicações. Apesar da sua referenciação directa com o imaginário artístico, a colecção de Inês Marques parece-nos curiosamente bastante comercial e esperamos que o obrigatório tempo de reclusão académica seja breve.

(Inês Marques)

[UN]T de Tiago Silva apresentou-nos um dos Casacos mais desconcertantes do dia, construído por uma malha de rede com acabamento encerado. A silhueta remete-nos para a ideia de uma cápsula protectora. Um conceito muito interessante para ser adaptado para uma vertente mais comercial.

Gostamos particularmente de assistir aos desfiles das Escolas. Sem a pressão comercial e com toda a vontade de experimentar conceitos e novas formas de composição é muito interessante assistir à sucessão de coordenados sobre um fantástico cenário interactivo de vidro reciclado amontoado.
A estampagem está presente na maior parte dos coordenados dos alunos do Modatex. Destacamos a colecção de Agata Gonçalves, sportswear comercial, em tons preto, branco e nude com a introdução de um verde ácido que quebra com a neutralidade dos tons. Joana Vieira, repete a questão da estampagem, desta vez manual e irrepetível. A colecção Prototype mostrou-nos peças aparentemente ainda em estudo.

(Modatex)

Nos desfiles da ESADFrancisca Pereira apresenta peças assimétricas que se desfazem como que saídas de um cenário de destruição. Carolina Machado, repete a colecção apresentada no Sangue Novo. Formas rectas, com cortes rígidos e recortes, que revelam algumas partes do corpo e o envolvem.

(ESAD)

Escola de Moda do Porto apresentou-nos colecções urbanas e descontraídas, onde sobressaiu o uso do preto e branco, numa contínua coerência dos coordenados de Anabela Rodrigues, Alexandra Teixeira e Sofia RochaMarco Moura desafio esta coerência através do uso da cor, enquanto Sílvia Rocha o fez através da leveza e transparência da sua colecção.