
2018 começa com aquilo que aqui chamamos de Lançamento Silencioso da colecção SS18 de Ana Segurado, através de um conjunto de contradições.
A começar pelo momento do lançamento de uma colecção de Verão num Janeiro chuvoso e frio, bem característico do Porto. Contudo, o aquecimento artificial dos espaços permite-nos usar todas as estações, em qualquer altura. Ainda que as tentativas de alguns intervenientes da indústria da moda em alterar os conceitos das “seasons” acabassem por não surtir efeito, persiste uma certa necessidade contínua do “novo”, ainda que tal novo não tenha necessariamente de respeitar o clima (e que clima?, se na realidade se pretende a globalidade).
Digital é o tema da colecção, inspirada nos robustos (retro)computadores, numa altura em que a espessura não era um requisito – para se adaptar aos bolos ou pulsos – enormes criaturas que ocupavam todo o espaço de salas. As imagens digitais de James Ball, aka Docubyte serviram como umas das bases. Falamos em contradição porque todo o, previsível, imaginário de marcas do tipo slow design, cruelty-free (conceitos-manifesto de Ana Segurado) nos remete para um ambiente mais analógico e fora da rede – Data, Disk, IBM, Keyboard, Ram (os nomes das peças)… contudo hoje pouco têm de rede e são, talvez, termos mais obsoletos do que representativos da high-tech futurista-do-presente. Digital por Ana Segurado é, como sempre, uma resposta crítica à questão formulada.
Contradição também no tal de Silêncio do lançamento. Pedem-se experiências às lojas físicas da era do e-commerce: interacção com o cliente, espaços imersivos e expressivos que rivalizem com a passividade online; uma experiência (é mesmo esta a palavra que repetidamente se usa, sem outros sinónimos) que tire os consumidores do conforto digital e os envolva no toque, no cheiro, no som, no sabor de um evento site-specific e brand-specific, efémero mas transitório para a compra, menos fugaz que um scroll que suscite chegar a casa e carregar no “adicionar ao carrinho” horas após a experiência (mas nunca no momento da experiência – a compra por impulso é evitável a todo o custo). Igualmente evitável é o peso dos sacos de compra. Paralelamente, movimentam-se no espaço da cidade, numa duplicação de percursos, o consumidor (livre) e as suas embalagens, proximamente num drone – hoje ainda é um ser humano que conduz um camião a combustível fóssil, amanhã ganharemos a luta do combustível mas perderemos a do ser humano-condutor. Com sorte, talvez esse carregar de botão para autorizar a compra, tenha alguma coisa a ver com o autor da experiência, quem sabe esquecida pela obsessão-simples do consumidor, movido agora apenas pela descoberta da forma-mais-fácil-mais-rápida-mais-barata de conseguir o objecto experienciado.
Hoje, 03.01.2018, na scar-id store é o lançamento silencioso da colecçao SS18 de Ana Segurado.
Digital está pendurada nos cabides, nos vários displays da loja e na montra; faz toda a primeira página de scar-id.com; são sobre Digital todas as publicações das redes sociais; não haverá “soon”, não serão criadas expectativas, não há detalhes revelados dia-a-dia, não haverá personas especiais a vestir a colecção; não haverá experiência de lançamento para além de uma visita despreocupada à loja para tocar nos materiais, o teste de tamanhos e uma conversa sobre os conceitos.
Ana Segurado, Digital SS18, silenciosamente (e em exclusividade) na scar-id store.