Montra: Pele Natural . Natal 2018

Publicado em

Para este Natal de 2018 decidimos pela primeira vez participar no concurso Montras de Natal, promovido pela Câmara Municipal do Porto.
Uma ´Pele Natural´ espalhou-se pelas montras da scar-id. Uma pele feita de folhas de árvore, dispostas numa surpreendente relação interior-exterior, que interage com o espaço urbano e com o interveniente individual, suscitando-lhe o toque.
A ´Pele Natural´ é um movimento de folhas de árvore coladas sobre as superfícies interiores e exteriores dos vidros da scar-id. Um movimento que começa no primeiro vidro da Rua do Rosário, continua pela porta, se objectifica na montra principal e se desvanece pelas montas secundárias em direcção à Rua do Breyner. Na montra principal (no gaveto) o movimento sinuoso alastra-se, ocupa a totalidade dos vidros e abre, no seu núcleo, uma forma triangular – uma árvore de Natal estilizada, em negativo, que se relaciona formalmente com as anteriores intervenções de Natal nas montas da scar-id.
As cores quentes outonais, contrastam com a luz branca, fria, que nos relaciona termicamente em contradição com o tema do Natal. É este contraste também decisivo. Mais do que acrescentar uma nova camada de iluminação, frequentemente luz quente, aposta-se na velatura da folhagem como filtro sobre as luminárias existentes, criando a nova temperatura visual.
A ´Pele Natural´ permite-nos ir de encontro a todos os pontos. Se era inevitável cumprir os critérios do caderno de encargos, também era fundamental apostar numa intervenção que permitisse uma certa liberdade expositiva. Dadas as características da scar-id, na qual damos primazia às peças únicas, não nos é permitido congelar produtos na montra durante o mês de Natal, pelo que a intervenção não podia condicionar os planos horizontais, que habitualmente usamos como expositor de produto.
Mas além de garantir o cumprimento das necessidades directas do concurso e das características programáticas do espaço, era necessário tentar alcançar mais dois pontos: a sustentabilidade e a contenção económica.
As folhas de árvore, secas, caídas pelo chão da cidade, serviram na plenitude este novo propósito. Se por um lado questionam o excesso de desperdício que a quadra natalícia propicia, evocando uma economia de meios e uma reutilização de soluções, proporciona sincronicamente uma economia financeira, demostrando que por vezes, usando apenas o sentido crítico e criativo (e algum trabalho manual) não é necessário evocar loucuras financeiras para apelar ao consumo (que aqui se quer responsável).
Não conseguimos, contudo, garantir a imutabilidade da ´Pele Natural´. Ao suscitarmos a interacção urbana, o convívio ao toque das texturas, estamos também subjugados à diária subtracção de elementos, que ainda que podendo ser rapidamente substituídos, dificilmente conseguirão mimetizar o grafismo inicial.
Composta por elementos naturais em processo de decomposição, é uma intervenção cromaticamente mutável. Os cobres, os laranjas, os vermelhos, os castanhos compõem um património visual oscilante.
A ´Pele Natural´ é também um compromisso urbano. Ao tirarmos partido da localização da scar-id num cruzamento movimentado da cidade, garantirmos com a intervenção uma indispensável relação com o espaço físico envolvente, partindo da instalação comercial em direcção à instalação urbana.
…………
Para o nosso espaço da Rua 31 de Janeiro, a VICENT by scar-id, decidimos desenvolver uma intervenção que apesar de privilegiarmos a sua autonomia, quisemos garantir relações gráficas de complementaridade e paralelismo com a montra da scar-id.
Face ao dever quase deontológico de desenhar uma proposta de acordo com a componente simbólica da fachada e da Rua em que se insere, subtraímos a carga conceptual e plástica que usámos na Rua do Rosário e encontramos um objecto capaz de ser rapidamente catalogado com o imaginário de Natal.