Opinião: Black Friday

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A 28 de Novembro de 2014, durante nosso ritual matinal (à época) de confrontação com o mundo, via redes-sociais, surpreendemo-nos com uma tal de Black Friday.
Talvez primeiro tenha sido a cor, seguindo-se a acumulação de referências digitais, mas acabámos por nos conceder dez minutos ao estudo da enigmática efeméride e outros dez para a significativa decisão de adesão.
Confessamos, terá sido realmente (apenas) a cor que nos levou a grosseiramente selecionámos alguns produtos para um simbólico desconto. Mais meia hora, da forma mais consciente possível, apesar da equivocada decisão, elaborámos um conjunto de comunicação digitais
Envergonhadamente, às onze horas a scar-id estava pronta para o Black Friday.
Finalmente, pertencíamos

A 24 de Novembro de 2017, no decorrer de um entusiasmante processo de instalação, alguém se lembrou da Black Friday.
Naquela Sexta-feira, quis o acaso que involuntariamente tivéssemos acabado por convidar uma das nossas marca mais `black´ para criar uma instalação site-specific no nosso espaço. As embalagens pretas da Made In Youthland flutuavam no espaço através de plintos transparentes. Imagens da pele, a preto e branco dançavam nas montras ao movimento da passagem. Desligaram-se as luzes e o vídeo negro tornou-se protagonista.
Terá sido, acidentalmente, a nossa melhor versão da Black Friday.
Na sequência, fomos apresentados à Cyber Monday.

Hoje, quase cinco anos após o dia zero da SCAR-ID, é a indiferença que substitui tanto a surpresa inexperiente, quer a vontade ingénua de pertença àquela sexta-feira 28 de Novembro.
Sem grandes manifestos anexos (aos quais poderíamos sempre dotar com habilidade os habituais temas do desenhado e produzido em Portugal, o respeito pela qualidade, pela mão de obra, pelo preços justo, pela sustentabilidade…) informamos que, apesar do permanente desejo de fechar a porta como acto de rebelião, hoje a SCAR-ID estará neutralmente aberta e os preços são os mesmo de ontem, porque são os justos.

Quando iniciamos este caminho, em Dezembro de 2013 tudo era descoberta.
Sem qualquer experiência em gestão ou comércio, achávamos (como hoje) que conseguiríamos apresentar uma perspectiva diferenciadora.
Como não conhecíamos a fórmula, pensámos em como faríamos se tivéssemos uma galeria e fossemos curadores, como se tivéssemos uma livraria e fossemos livreiros, como se tivéssemos uma florista e fossemos…
Passada a euforia inaugural, compreendemos que o caminho da SCAR-ID não é compatível com os valores da Black Friday.

PS: este texto continuará válido, segunda-feira, na Cyber Monday.