2021

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2021 vai ser um ano melhor do que 2020? Sim, se usarmos como ponto de perspectiva as medidas do medo e da esperança. Desejamos um 2021 com menos imprevisibilidade e esperamos um ano em que nos seja possível, a todos, fazer (e cumprir) planos, metas e utopias, sem sermos surpreendidos pelo desconhecido que nos obriga a respostas impulsivas e irreflectidas. Dependendo do lugar de conforto em que cada um de nós se encontra, podemos prosseguir com a confiança reforçada: (e nem que seja por uma infeliz comparação) 2021 será um ano melhor.

Mas no consumo tudo se precipitou. A lenta e gradual direcção de passagem do físico ao online, foi substituída por uma urgente adaptação utilitarista e confortável: hoje, quem pensa em comprar, pensa em comprar online. O movimento físico de loja-em-loja como método de escolha foi trocado pelo scroll infinito na comodidade do sofá. Para quê deslocar-me se posso fazer chegar tudo até mim?

A reflexão que os espaços físicos se obrigaram a fazer em 2020 será posta em prática em 2021. Qual é o papel de uma loja (física) na cidade? Para 2021, as lojas poderão transformar-se em showrooms, espaços de exposição e evento (quando regressarem). Para 2021, os lojistas poderão converter-se em influenciadores digitais e agentes de comunicação. Para 2021, as marcas poderão autonomizar-se, perder o referente e direccionarem-se individualmente a cada cliente. Ou não, pois não só nenhum destes processos é simples ou económico, como há poucas garantias que possam resultar.

2021 traz também a certeza que o capitalismo de mercado, fundador da economia moderna, tem na digitalização o seu processo de declínio. É novamente o tempo dos monopólios e das oligarquias. Em 2021, ser independente e local, não é só um statement de comunicação, mas um lugar de trincheira numa luta impossível, mas fundamental.

Para 2021, na SCAR-ID, o lema será a resistência. Queremos acompanhar a transformação (somos loja online, somos showroom, somos marca, somos influenciadores digitais), mas queremos sobretudo dedicar-nos a afirmar o papel do espaço físico enquanto elemento fundador da cidade. A cidade precisa tanto do comércio como da praça e do monumento. Só com o comércio podemos ter cidades vivas, sedutoras e colectivas. É o nosso papel para 2021 conservar esta missão urbana, ao mesmo tempo que queremos continuar a apresentar os produtos mais interessantes aos nossos clientes.

Contamos consigo. Obrigado por estar sempre aí.

Feliz 2021.         

7 anos

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I

7 anos. Treze de dezembro de dois mil e treze. Chegámos atrasados (havia fila à porta, quem diria?). Abrimos com loja online, mas militantemente físicos.  Há 7 anos não era um risco um projecto sobre texturas. Há 7 anos havia paixão. Hoje (também) há resistência.

II

No dia seguinte vendemos uns atacadores. Só. Cinco euros. Quem é que há 7 anos vendia atacadores ao lado de mobiliário, roupa, cerâmica? Nisso talvez tenhamos sido pioneiros. Pelo menos por cá. Ainda temos alguns atacadores. Não os vendemos todos. Não sabíamos quando se dizia obrigado. Não sabíamos quando a nossa narrativa apaixonada pelo produto estava a ser maçadora ao cliente. Hoje também não (a máscara não o deixa compreender).

III

Há 7 anos tínhamos a troika. Hoje temos a peste. Nada de novo então. Novas crises (do ciclo capitalista que nos resignámos a pertencer). Mas hoje não abriríamos um espaço na cidade – num mundo sem toque e sem cheiro, onde as conversas não têm expressão e o consumo é preguiçoso: quem é que falou em consumo?

IV

Deveríamos ter já assimilado na plenitude o online como nova forma e aceitar o metabolismo nativo da actividade comercial enquanto disciplina? Talvez, só que não devemos. Ou pior, não nos adaptámos e não nos queremos, militantemente, adaptar. Nós aqui pelo comércio – tradicional, local ou de rua – temos preferido sempre encarnar um último sopro de resistência”.

V

Este natal desenhámos uma mesa para a nossa montra (haverá uma espécie de natal). Andamos a desenhar mesas desde dois mil e treze. Uma mesa, um convite para uma conversa. Uma ligação. Andamos a criar novas ligações (no design) desde dois mil e treze.

VI

“Caro consumidor, que cidade quer encontrar no final desta pandemia, depois de ter decidido – talvez irrefletidamente – eleger como espaço de trocas comerciais, o tapete de entrada de sua casa? Temos uma missão para si: cuide de nós agora, para quando voltar o nosso tempo, podermos continuar a cuidar da cidade”.

VII

7 anos. Treze de dezembro de dois mil e vinte. Amanhã continuamos a resistência. Mas hoje não. O hoje é para nós. Parabéns SCAR-ID.

A Mesa de Natal [ ATER by scar-id]

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A Mesa de Natal ATER by scar-id

estava preparada. Os gregos

gostavam da ideia da preparação da alma. Preparar uma mesa

para o jantar é (hoje) uma tarefa igualmente virtuosa.  O mais importante é

saber escolher

os pratos (de 23€ a 35€). Nesta mesa, a pequena tábua de mármore (72€) espera por uma entrada. Mas todo o cenário é afinal a antítese da entrada – saída – a fuga.

Sílvia, de um lado,

partiu até sem a sua Carteira (330€). André, do outro, nunca tinha deixado uma

caneta sem tampa, enquanto pensava os seus textos.

O motivo parece-nos óbvio: os copos (de 12€ a 30€) estavam vazios. Pode até,

num espaço de loucura, permitir-se alguém, sentar-se a uma mesa sem comer – pode-se apenas conversar: talvez sobre

arte contemporânea ou fotografia – as paixões da Sílvia – inclusivamente sobre a pequena

polaroide de Paris tirada por ela em dois mil e seis. Mas esta conversa particular,

quem nos diz que, talvez, não tivesse sido mesmo

subitamente interrompida por falta de líquido nas Jarras (de 57€ a 140€)?

André denunciava-se subtilmente na sua fuga. A régua (Kima, 18€) foi também

deixada para trás, tal como

a arquitectura e um par de óculos Darkside (189€). Porque deixaria Sílvia, as suas cerâmicas por estrear na noite de Natal é invariavelmente assunto de digna investigação.

Talvez: tenham saído, a convite,

à procura de vinho, poesia ou virtude? Não se sabe.

Sabe-se apenas que as almofadas (57€) ainda estão quentes e que a fruta ainda não fora aberta. Em certos círculos – íntimos até – especula-se que Sílvia e André talvez não voltem

a esta mesa.

Porque não se abandonam joias – nem de mão (Pedro Santos, de 6€ a 12€), nem de dedos (anéis 45€) – espalhadas com a mesma despreocupação com que um dourado

contamina delicadamente todo o ambiente.

Mas é só uma ideia inaugural e etérea, pois ambos conheciam bem

os ensinamentos do sábio no que toca a comida, bebida, ilusão e – principalmente –

sorte. É que

apesar de tudo fazerem – nunca os gregos nos deixam –

como se estivessem a ser observados, uma mesa quer-se: não na

montra de uma loja, mas, afinal, em

casa.

Rita Sá [ novos preços ]

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Dia 28 de Fevereiro, a SCAR-ID apresenta a nova colecção SS20 de Rita Sá.

Nesse dia, a nossa selecção AW1920 da marca, depois de um período de 30% de desconto regressa, como anunciado, aos valores originais e as peças SS19 passam indefinidamente a uma redução de 30%.

Porque é que uma colecção, que se quer assumir como Intemporal, reduz o seu preço?

Entre as mais variadas razões, com as quais habitualmente, manifestamente discordamos, encontra-se uma motivação indiscutível, que pela sua transparência em nada colide com os princípios que tentamos defender: ciclicamente, é necessário encontrar com alguma urgência um orçamento extra capaz de auxiliar o desenvolvimento de novas criações.

Uma vez completado o seu propósito artístico de financiamento de uma nova colecção, o produto não vendido não encontra outro pretexto apropriado para não regressar à sua categoria original de produto intemporal. A peça volta a estar marcada com aquilo que consideramos ser qualquer coisa como um preço-justo.

Mas por vezes os preços justos (já por si alvo de extrema subjectividade) tornam-se injustos, o que agrava toda a subjectividade reservada à questão económica.

Um preço justo de uma peça tona-se injusto sempre que a peça não é vendida, dado que nessa eventualidade, alguns dos intervenientes do ciclo não são correctamente expostos à pertença justiça da distribuição das (pequenas) mais-valias.

Nesta perspectiva, deve uma colecção de ambição intemporal, ver o seu desejado preço-justo reduzido de forma permanente para poder cumprir, ainda que por via paralela os objectivos iniciais? Pode reduzir-se de forma temporária, estabilizando-se novamente, no preço original?

A resposta mais razoável, inevitavelmente não resolve a questão: depende.

Para o caso, pareceu-nos interessante a estratégia comercial da marca Rita Sá, pelo simples facto de nos levantar questões essenciais à mensagem que diariamente comunicamos aos nossos consumidores.